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- 10 de junho de 2021

Antes de mais nada

Quero apresentar para vocês a Caderneto! Mas como se apresenta algo que ainda não está pronto? Sim, estamos trabalhando nisso e a todo vapor, pelo cronograma eu nem deveria estar escrevendo esse post, mas estou numa imersão tão profunda nos processos, que achei um desperdício não compartilhar as experiências dessa fase pré-lançamento. Essa é uma marca que está nascendo aos poucos, fruto de uma paixão pela encadernação, pelos processos manuais e pelo design. Enquanto as coisas vão tomando forma por aqui, começo a escrever sobre como foi (e está sendo) o amadurecimento das ideias.

Construir o conceito de uma marca não é tarefa fácil. É preciso desligar da mente a relação com a forma, desconectar a marca de um logotipo. Por isso primeiro eu pensei em toda a estrutura conceitual e só no final defini um nome e uma identidade visual. Às vezes é feito o processo inverso e não quer dizer que isso é errado, mas eu gosto de saber que os sinais visuais da marca foram inspirados no que ela é, e não o contrário.

No caso de uma marca de produtos, pensar os materiais que vão compor as peças também faz parte da sua identidade. Quando comecei a esboçar as primeiras ideias para a Caderneto, eu já sabia que queria trabalhar priorizando matérias-primas que não agredissem o meio ambiente ou as pessoas. Optar por fibras e corantes naturais foi óbvio, já que o tingimento é uma etapa que costuma ser agressiva na fabricação. Estou trabalhando com tecido cru e fazendo alguns testes com pigmentos como colorau, açafrão e espinafre (se você quiser, pode acompanhar esse processo de perto no nosso Instagram). Embora eu ainda use alguns tecidos tingidos industrialmente, parte dos cadernos da coleção trarão esses pigmentos em suas capas. Eu também queria muito trabalhar com o couro, pois gosto do aspecto que têm os cadernos feitos com esse material. Mas como não pretendo utilizar materiais de origem animal, busquei algumas alternativas sintéticas confiáveis para testar.

Os últimos dias estão sendo assim, testar, avaliar, muitas vezes rejeitar e começar de novo, mas é exatamente esse processo que constrói um resultado único, com características próprias. Não vou dizer que todo o trabalho da Caderneto será autoral, porque é mentira. A encadernação artesanal é uma técnica (um conjunto de várias técnicas, na verdade) que é praticada há séculos em todas as partes do mundo. Muitas das costuras que usamos atualmente já eram usadas no Egito Antigo, por exemplo. Mesmo hoje no Brasil já existem vários ateliês especializados mesclando técnicas tradicionais e artísticas, não seremos os primeiros nem os únicos. Mas sim, é possível trazer um novo olhar sobre a encadernação e sobre o trabalho manual, é possível tratar o livro como um projeto de design e buscar novos materiais, novas técnicas, novas abordagens. É nisso que estamos trabalhando.