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- 5 de maio de 2022

O fantasma da folha em branco

Não raro eu recebo depoimentos de pessoas que tem sketchbooks em casa há muito tempo mas têm pena ou não sabem como usar. De fato é um pouco assustador encarar uma página em branco e muitas vezes nos pegamos olhando para trabalhos incríveis desejando que nossos cadernos tenham igual qualidade estética.

Pois eu digo que os cadernos mais bonitos são aqueles cheios de verdade, com personalidade e histórias pra contar. Não é difícil se você se desprender da ideia de que o seus traços têm de ser impecáveis e parar de pensar num caderno como algo definitivo, finalizado. Sketchbooks são exatamente o que são: cadernos de rabiscos, de rascunhos, de sketchs!

Mas vamos lá, que tal fazer um pequeno exercício de desapego? Preparei algumas dicas baseadas na minha própria experiência que talvez possam ajudar nessa empreitada:

1 – Pare de escrever e desenhar com lápis fraquinho para passar a limpo depois

Admita, a menos que esse realmente seja um hábito consolidado (você já fez mais que 5 vezes?), isso nunca acontecerá! O lápis ficará para sempre ali, pálido sobre a folha que seguirá predominantemente branca. Se é pra usar lápis, que seja rápido e fatal. Faça um esboço muito rápido e depois já reforce o traço. Olha que lindo que fica quando se pode ver o traço do esboço:

2 – Experimente fazer colagens

Fotos, embalagens, folhas secas… Colagens dão vida a qualquer sketchbook e são um ótimo start para uma folha em branco. Basta um pouco de cola e pronto! Acabou o desespero, agora a folha já foi inaugurada e fica mais fácil colocar as ideias a partir desse ponto. Experimente colar uma imagem e fazer uma arte livre a partir dela, é libertador!

3 – Aprenda a usar os erros a seu favor

Você acha que DaVinci gostava de todos os desenhos de seus sketchbooks? Você sabe né, nem tudo que ele desenhou estava exatamente perfeito e funcional. Aprender a deixar seus erros à mostra, faz parte do processo criativo. Ok, errou feio e não quer por nada que alguém veja esse vexame? Então converta o erro em acerto. Ao invés de abandonar a arte e virar a página rápido sempre que alguém estiver olhando, transforme-a! Jogue tinta, cole, recorte e veja seu erro tornando-se algo interessante e cheio de personalidade.

4 – Junte-se a um desafio que exija disciplina

Você pode escolher um dos diversos desafios prontos que tem por aí, como o 30dayskkk, o jskfjdsffd ou o sjdfsdcsduc. O Instagram está cheio deles, basta encontrar um com o qual você se identifique. Mas é importante que seja algo possível, que exija sua disciplina, não o seu sangue. Não adianta iniciar algo que não será possível terminar.
Se não encontrar um desafio dentro do que você deseja, crie o seu próprio! Pode ser desenhar as poses do seu gato, uma planta por dia, escrever os detalhes de um projeto, fazer uma página sobre cada aula de um curso que esteja fazendo ou um diário de bordo de uma viagem… Enfim, o importante é ter um objetivo a cumprir.
Caso falte disciplina, torne esse desafio público, assim há um compromisso a honrar. Lembre-se que tornar público não quer dizer necessariamente publicar tudo o que você fizer, pode ser o compromisso de publicar apenas uma seleção dos melhores trabalhos, por exemplo.

5 – Guarde a 7 chaves

Essa dica é o oposto da anterior, mas penso que pode funcionar para pessoas e momentos diferentes.
Na infância e na adolescência o gosto pelos cadernos secretos é muito comum. Quando foi que perdemos essa intimidade com nós mesmos? Por que hoje não podemos ter cadernos que são só nossos, sem julgamentos, sem opressões?
A urgência pelo compartilhar e a pressão da opinião pública claramente barram nossa criatividade. Pense em cadernos só seus, onde você pode ser e fazer o que quiser e não precisa mostrar pra ninguém. Esse é outro exercício de desapego, dessa vez do ego, de mostrar-se ao outro, de ter aprovação. Tente. Pode ser que no final fique tão bom, tão seu, que você queira até sair mostrando pra todo mundo. Ou não.